Vende-se Uma Barriga
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Uma barriga e duas mulheres. O sonho da maternidade a qualquer preço. Uma gestação sem laços afetivos. A vida como um negócio. Mulheres que fazem do corpo um comércio de seres humanos. A investigação do Conexão Repórter dura meses. Até chegar a inquietantes revelações. Como é feito o acerto entre mães de aluguel e aquelas que não podem gerar vidas? Casais desesperados cujos sonhos ultrapassam os limites da lei. Mulheres que fazem do útero uma fonte de renda. Os anúncios proliferam na internet. As ofertas são inúmeras. Tanto de quem está alugando a barriga, como quem está procurando uma.
Ligamos para uma dessas mulheres que resolveram fazer da gestação um negócio rentável. A conversa é rápida. Marcamos um encontro. Pegamos a estrada para Campinas, no interior de São Paulo.O primeiro contato é do lado de fora do shopping. Seguimos para a praça de alimentação. Estamos na hora do almoço, a circulação de pessoas é grande. O casal prefere o local para não chamar a atenção. Nossa produtora usa um nome fictício . Ela diz que é casada e está interessada em alugar uma barriga. Mônica e Rodrigo são casados há sete anos e tem dois filhos. Desempregado, o marido pretende abrir um negócio com o dinheiro da barriga de aluguel. Faz nove meses que colocaram anúncios na internet. Nossa produtora dá uma desculpa providencial e sugere um novo encontro. O casal destaca: o pagamento pode ser feito em duas parcelas. O destino de um bebê ditado pelas regras de um mercado clandestino e criminoso. Pequenos seres humanos, muitas vezes negociáveis antes mesmo de nascer. Um mercado que só se prolifera.
De volta a São Paulo, entramos em contato com mais uma candidata a mãe de aluguel. A mulher não se importa em gerar a criança e depois entregar a um desconhecido. Viajamos até Belo Horizonte para conhecer a mãe de aluguel.Nosso produtor se passa por um homem casado, interessado em alugar uma barriga. Minutos depois chega a mãe de aluguel. Daniele, vinte e nove anos, mãe solteira de um menino de sete. Ela é estudante de direito e quer o dinheiro para concluir os estudos.A conversa é descontraída, ela sabe bem o que quer. Daniele trata do assunto enquanto saboreia seu lanche da tarde. Agora, Daniele deixa claro que sua gestação não terá laço afetivo com a criança. Deixamos o local com a promessa de um novo encontro nos próximos dias.
O Conexão Repórter vai à Noruega conhecer o dia a dia destes dois homens. Um casal de homossexuais que recorreu à prática para realizar o sonho da paternidade. Eles têm 35 anos e há quatro decidiram recorrer a barriga de aluguel para realizarem o sonho de ter um bebê. Vieram dois. Como na Noruega a barriga de aluguel é ilegal, eles alugaram o útero de uma americana, com a ajuda de uma agência de doação de óvulos da Califórnia, estado em que a prática é permitida. Queriam gêmeos. E por que escolher a barriga de aluguel e não a adoção?
A prática de barriga de aluguel é permitida na Índia desde 2002. Além da legalidade, o baixo custo leva casais do mundo todo a procurar mães de substituição no país. Enquanto uma americana gasta com a barriga de aluguel 200 mil dólares, na Índia não passa de 10 mil. Na Índia, eles são conhecidos como os bebês milagrosos. Mães como Ophina, de 26 anos, que gerou e deu a luz a gêmeos para Christine, uma mulher estéril de Vancouver, no Canadá. Ophina alugou seu útero por 7.500 dólares. Uma quantia superior ao salário mínimo de um trabalhador médio por dez anos na Índia. Com o dinheiro, ela pode realizar o sonho de comprar uma casa. Ophina é uma das 50 mães substitutas da clínica de infertilidade em Anand, Gujarat. No total, a indústria da barriga de aluguel movimenta meio bilhão de dólares por ano. Christine, a mãe biológica dos gêmeos que Ophina gerou, tentou a fecundação in vitro em seu próprio útero por três vezes. Todas sem sucesso. A Índia era sua última esperança já que a barriga de aluguel é ilegal no Canadá.
A doutora Nayna Patel abriu uma clínica há cinco anos. Só aceita mães substitutas que já tenham seus próprios filhos. E limita a cada uma, três tentativas. Muitas mães substitutas admitem que o momento mais difícil é entregar o bebê depois de dar a luz. A única recordação que Ophina terá dos gêmeos, que ela gestou durante nove meses, serão estes medalhões. Os famosos também recorrem a barriga de aluguel.
Seguimos para Americana, no interior de São Paulo onde Suzy mora. Nossos produtores se passam por marido e mulher em busca de uma mãe substituta. Suzy e o marido Fernando tem um casal de filhos. Um rapaz de 20 anos e uma menina de 12. Ela já alugou seu útero por 25 mil reais. Agora, está pedindo bem mais: 150 mil. Jaqueline tem 29 anos. Tem uma filha de 9 anos e um filho de dois. Quer alugar a barriga para comprar uma casa. Ela pede 100 mil reais. Jaqueline realmente está disposta a alugar a barriga. Mais uma vez, sem saber que estava sendo gravada, foi com nossos produtores até uma clínica de reprodução humana. Ela se dispôs a realizar todos os exames necessários para que a hipotética fertilização fosse satisfatória. Mas, obviamente, que a nossa suposta negociação acaba aqui.
O Brasil não possui uma legislação específica para a prática de barriga de aluguel. Hoje, o procedimento só é permitido entre parentes. E não pode haver interesse financeiro entre as pessoas envolvidas. Em muitos casos, quem recorre ao serviço de forma ilegal, pode ser enquadrado na lei de transplantes que proíbe a compra e venda de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano. Um crime que prevê até oito anos de prisão, mas até hoje ninguém foi preso no Brasil por negociar o útero.
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